sexta-feira, 17 de junho de 2016

Classificação de trilhas ecológicas

“Vamos fazer uma trilha neste final de semana?”, “É difícil?”, “Sobe muito?”, “Será que eu aguento?” e várias outras perguntas são feitas com frequências aos condutores de trilhas ecológicas com relação a dificuldade do percurso. Porém, não existe uma classificação universal que possa ser utilizada em qualquer lugar, cada país/região utiliza um padrão. Daí muitas vezes a dificuldade em traduzir aos caminhantes o que os espera pela frente. Nos EUA, por exemplo, é adotado um sistema de classes para cientificar os usuários sobre a dificuldade de determinado percurso, conforme a seguinte regra: Classe 1 – caminhada curta em terreno plano, simples deslocamento; Classe 2 – trilha fácil, quase sem inclinação (hiking); Classe 3 – terreno acidentado, não exige material técnico, mas envolve aclives e declives; Classe 4 – caminhada com trecho de dificuldade técnica, onde eventualmente é necessário o uso de equipamento de segurança; classe 5 – escalada técnica, com uso obrigatório do equipamento de segurança. 

Também pode ser utilizado o sistema de níveis (extremamente leve, leve, moderado, semi-pesado e pesado), cada nível com suas particularidades. Já Pedro da Cunha Menezes, no livro “Novas Trilhas do Rio”, classifica as trilhas segundo o grau de orientação (fácil; médio; difícil; muito difícil), segundo o preparo físico (fácil; exige preparo físico; cansativa; extenuante) e segundo o nível de dificuldade técnica (simples; com subidas e descidas; necessário uso de mãos em trechos perigosos ou expostos à altura; trechos muitos expostos, perigosos, bastante técnicos, onde é indispensável o uso de cordas), chegando bem próximo ao sistema utilizado pela ABNT aqui no Brasil.

Desde 2008 a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) utiliza a NBR 15505-2/2008 como critério para classificação de percursos considerando quatro fatores: severidade do meio, orientação do percurso, condições do terreno e intensidade de esforço físico, cada fator com seus parâmetros específicos conforme tabela abaixo:




A NBR 15505-2 utiliza quatro critérios, cada um recebendo uma nota de 1 a 5, que devem ser avaliados para cada trecho do percurso:

a) Severidade do meio: refere-se aos perigos e outras dificuldades decorrentes do meio natural, que podem ser encontrados ao longo do percurso. A norma lista 20 ocorrências que, se estiverem presentes no percurso, devem ser contabilizadas cumulativamente. Exemplos:

- exposição a desprendimentos de pedras provocados pelo próprio grupo ou outro durante o percurso
- alta probabilidade de exposição a ventos fortes ou frios
- tempo de realização da atividade igual ou superior a 3 h de marcha sem passar por um lugar habitado, um telefone de socorro (ou sinal de celular ou radiocomunicador) ou uma estrada aberta com fluxo de veículos

Se o trecho tiver até 3 ocorrências, recebe a nota 1 (Pouco severo). Se tiver pelo menos 13 é considerado muito severo (nota 5)


b) Orientação no percurso: refere-se ao grau de dificuldade para orientação, como presença de sinalização,trilhas bem marcadas, presença de pontos de referência, entre outros, para completar o percurso;

A Norma considera a situação mais confortável (nota 1) como "Caminhos principais bem delimitados ou sinalizados, com cruzamentos claros com indicação explícita ou implícita. Manter-se sobre o caminho não exige esforço de identificação do traçado. Eventualmente, pode ser necessário acompanhar uma linha marcada por um acidente geográfico inconfundível (por exemplo, uma praia ou uma margem de um lago)"

A pior situação (nota 5) ocorre quando: "O itinerário depende da compreensão do terreno e do traçado de rotas, além de exigir capacidade de navegação para completar o percurso. Os rumos do itinerário podem ser interrompidos inesperadamente por obstáculos que necessitem ser contornados"


c) Condições do terreno: refere-se aos aspectos encontrados no percurso em relação ao piso e às condições para percorrê-lo, como tipos de pisos, trechos com obstáculos, trechos com pedras soltas, entre outros;

Se você vai caminhar em estradas e pistas para veículos, caminhos com degraus com piso plano e regular ou praias (de areia ou de cascalho) com piso nivelado e firme, então o trecho será classificado como nota 1. Porém, se há trechos que exigem técnicas de escalada do grau II até III Sup. (graduação UIAA para escalada ou progressão vertical) e exige a utilização de equipamentos e técnicas específicas (como é o caso da trilha do Costão do Pão-de-Açúcar, por exemplo), a nota atribuída será 5.


d) Intensidade de esforço físico: refere-se à quantidade de esforço físico requerido para cumprir o percurso, levando em conta extensão e desníveis (subidas e descidas).

Neste caso, a classificação é dada pelo tempo gasto, considerando as distâncias e as velocidades médias:

- piso fácil (por exemplo, estradas e pistas): 4 km/h;
- piso moderado (por exemplo, trilhas, caminhos lisos e prados): 3 km/h;
- piso difícil (por exemplo, caminhos ruins, pedregosos e leitos de rios): 2 km/h.

Com acréscimos para Subida (aclive) - 200 m/h e Descida (declive) - 300 m/h

Um percurso com pouco esforço (nota 1) é aquele cuja soma de tempos previstos seja inferior a 1h e percursos considerados de "esforço extraordinário" são aqueles com mais de 10h (nota 5).


Seja qual for o sistema adotado, pode ser falho em vários aspectos, pois entra em cena algumas propriedades próprias de cada caminhante, se possui maior ou menor experiência, se está com guia ou não, se tem algum problema de saúde, principalmente respiratório ou de mobilidade, enfim, o grau de dificuldade varia de pessoa para pessoa, tendo influência o condicionamento dessa pessoa e o peso que está carregando. 

Além das condições físicas, também é necessário avaliar os equipamentos adequados para determinado percurso, de forma a manter a atividade segura e confortável. A quantidade desses equipamentos vai impactar no peso da mochila e consequentemente no desempenho da caminhada.

Deixo aqui um modelo de trilha já classificada pela NBR 15505-2 e utilizada pelo grupo Trilhas na Serra;



Referências:

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